O currículo, argumenta, o desafia a fazer um protagonista não-convencional. "As pessoas acham que é fácil porque já fiz um homossexual, um caipira, um mau-caráter, mas não é. Eduardo é um desafio grande porque não quero fazer o óbvio. Nunca fiz e não é agora que vou fazer", diz o galã. "É o meu primeiro mocinho de fato. O que mais queria era fazer um."
O ator afirma que a diferença entre o seu mocinho e os velhos conhecidos dos folhetins está no comportamento diante da vida e até das mulheres. O jovem, um engenheiro recém-formado, não passa os capítulos curtindo uma paixão platônica, por exemplo. Prefere partir para o jogo da sedução quando conhece alguém interessante.
"Ele tem atitude, sabe o que quer, não ouve desaforo. Isso é muito importante, acho que é por isso que estou gostando tanto (do papel). Vai sofrer por amor, mas não é aquela coisa de chorar porque não teve coragem de se declarar, mas porque levou um fora."
Gagliasso apelou à memória e ao cinema para compor o protagonista do núcleo jovem da novela das seis. "A gente teve que entrar no mundo de 1958 para se preparar. Não foi difícil porque não é uma época tão distante. Foi um ano importante na política, no esporte. Foi o ano da Barbie, do bambolê. E vi filmes de James Dean e Marlon Brando. É um estudo que não é estudo, basta resgatar o que já tinha visto e ouvido falar."
O folhetim é a segunda adaptação para a TV do livro homônimo de Lygia Fagundes Telles, mas o ator não quis ler o texto de Lygia ou ver cenas da primeira produção para não se influenciar e criar um Eduardo só seu. "O Alcides (Nogueira, responsável pela readaptação) disse que não é remake, que o livro e a primeira novela são só referências. Gosto de criar. A profissão pede para criar, não copiar."
Eduardo conhece a professora Margarida (Cléo Pires) e o resultado é amor à primeira vista. Depois, esbarra com Virginia (Tammy Di Calafiori) e acaba descobrindo que a garota é o grande amor de sua vida. "Acredito em paixão à primeira vista, mas não acredito em amor à primeira vista. O amor vem com o tempo, com a convivência."
Não é dessa vez, contudo, que Gagliasso se dedicará apenas a um bom moço. Enquanto grava como bom exemplo para a TV, o ator "surta" no teatro. Ele viaja pelo País como a peça Um Certo Van Gogh, na pele do pintor. O espetáculo deve estrear na Capital em julho, no Teatro Folha. "Brinco que faço de segunda a quinta de manhã um mocinho e, de quinta a domingo à noite, um louco", diverte-se.
O intérprete acredita que a trajetória do famoso artista não teria espaço no vídeo, mas acha que já fez no veículo um trabalho quase tão complexo quanto faz no palco. "Van Gogh é uma história para filme, teatro. Não dá para reproduzir na TV as coisas que ele fazia. Mas Junior foi complexo. Tinha uma função social, principalmente porque o beijo gay não foi ao ar. Depois dele, o beijo pode acontecer, foi mais importante não ter acontecido. O ator tem que levar à discussão sempre."